imagem

Surpreendendo nações e chefes de Estado, a rápida propagação do vírus Covid-19 e sua letalidade impactaram as sociedades, percebendo efeitos na saúde, política, economia e trabalho. Para as populações, mudanças significativas nos modos de vida, deslocamento e lazer, a partir do isolamento social. Para as empresas e indústrias, medidas emergências para contenção de despesas, demissões, mudanças e adequações de produção. Para gestores públicos, o desafio de tomar decisões em prol da saúde pública, ao mesmo tempo em que traça estratégias para minimizar impactos do que pode vir a ser uma das maiores crises econômicas do mundo.

         E o turismo, como ‘fica’?

Mesmo com expectativas de retomada das atividades ligadas ao turismo até dezembro de 2020, a realidade que se apresenta é que o fim do isolamento social depende muito mais de como agimos hoje. E isso também significa bastante para o setor turístico. Daí me cabe dizer: ‘queremos voltar ao normal, mas não seremos mais os mesmos’, e isso fica cada vez mais evidente, quando a propagação de um vírus expõe não só uma fragilidade de saúde pública, mas de toda situação política e econômica brasileira.

Num governo com ‘pitadas de negacionismo científico’, a conduta da gestão nacional contra a Covid-19 pode influenciar negativamente na imagem do Brasil. Neste cenário de governabilidade frágil, é pertinente o momento para refletir acerca das possibilidades que a atividade turística pode desempenhar para a reestruturação econômica do Brasil.

Por que não começar se questionando a quem se destina o turismo? Ou reavaliar a maneira como participam os agentes operacionais do turismo (guias de turismo, garçons, camareiras, atendentes, motoristas, trabalhadores informais, etc)? Quais estratégias o turismo vai encontrar para superar a delicada situação em que se encontrará no pós-pandemia?

Arrisco afirmar que o turismo doméstico venha a ser mais do que promissor, seja na manutenção do lazer – enquanto educação, apropriação e reconhecimento –, seja na valorização das culturas e identidades locais. Não apenas para fortalecer a economia, o desafio é tornar cada vez mais realista e efetivo o discurso de economia solidária e criativa. Tanto para o desenvolvimento do turismo, como para impulsionador na criação de redes que fortaleçam as produções agrícolas, artesanais e culturais locais.

O segmento não é novidade para o mercado turístico brasileiro e a perspectiva de valorização das identidades locais está cada vez mais evidente nas discussões científicas acerca do turismo. Inclusive enquanto movimento importante para o desenvolvimento socioeconômico local. A utilização da gastronomia local enquanto atrativo turístico, por exemplo, pode proporcionar ao turista uma experiência marcante, mas, também vislumbra ao residente, identidade. Ao consumir o alimento, são gerados empregos com a implantação de empreendimentos turísticos, renda e incentivo às cooperativas e à agricultura familiar.

Na expectativa de não sermos mais os mesmos após a pandemia, fica a questão de como tornar mais práticas as iniciativas de participação e inclusão da população local, produzindo e consumindo o turismo. Ao mesmo tempo em que fica a reflexão de que ainda é difícil visualizar como as mudanças influenciarão nossa dinâmica social, política e econômica em longo prazo. Sigamos atentes ao que virá, preparados e dispostos para lidar com a responsabilidade de transformar uma atividade tão social, política, econômica e cultural como o turismo.

Dayseanne Lima

Mestre e pesquisadora em Turismo