imagem Igor Graccho

Denio Azevedo*

Fico espantado quando alguém abre a boca para dizer que Aracaju não tem espaços de lazer nem coisas para fazer. Para estas, as práticas de lazer ficam restritas aos arredores do bairro Atalaia. O pior é que, geralmente, seres humanos desse tipo não são como Cláudio Miguel que valoriza o “Cheiro da Terra” nem ficam “mirando as ondas do mar”. Para os desatentos, Chiquinho do Além Mar faz sempre o mesmo convite: “olha seu moço venha ver a minha praia, vem conhecer a minha bela Atalaia”.

Na segunda-feira, percebo que as praias do Robalo, dos Náufragos, da Aruana e Refúgio são bem frequentadas. São “recantos de rara beleza;
São encantos pra quem vem aqui;
Deslumbrante morena praieira; Nós morremos de amor só por ti”. 

Rua de São João - Divulgação

À noite, chamei Bob Lelis e fomos na Rural do Forró à Rua de São João, escutando no “Balanço do Forró” de Erivaldo de Carira. Érica Barbozza e Joba Ralacoxa são um “Chamego Só” ao som de Pedro Lua. O som de Alberto Marcelino “Balança Eu”, balança você e balança todo mundo. A orquestra sanfônica botando pra ariar a fivela, Robertinho dos Oito Baixos cagota dançando e Lucas Campelo já rezando pra “Meu Santo Antônio” para cair umas gotas de chuva para amenizar o calor, Rebecca Melo grita: “Deixa Queimar” e Joésia Ramos diz: “mas que ‘Diacho de Mulher’ é essa?”

“No Rolê” com Anne Carol em Aracaju fomos até a Blitz Cultural no Bugio e nos deparamos com um “nordestinaracajuano” chamado Roger Kbelera, um Bacuri e até com “Os Cavaleiros da Triste Figura”. Tinham também uns malucos no meio da praça Osvaldo Mendonça querendo mudar o mundo novamente, uns tais de “Remundados”. MC Thaty chamou Fontineli, Alê Santos, Itamar, Altemir e Rogério Santos até o Bar de Dedé e a gente terminou na Costelaria do Chef. Comemos tanto que ficamos tristes. 

Alex Sant’Anna disse logo: “Cabô Tristeza”. Leva essa galera para conhecer as “terças autorais”. Resultado, fomos parar no Stones. Táia tava “Tipo Iansã encontrando Obaluaê”. Mamah então, estava com “A Lua em Leão” e Lari Lima baixou logo a “Iemanjá”. Do palco vinha um som com uma força Quesiana e uma melodia Perolada que dizia: “Sou Trava Nagô e Quem é Você?Aguenta o Atraque, Engole o Dendê”. Oduma estava com o seu “amor Passatempo” e Morgana ficou lá sabendo que a criatura já estava com outro alguém. Então, “Que Seja”. 

Meracado de Artesanato - Matheus Moura

Na quarta-feira, chamei os professores Carine Mangueira e Osvaldo Neto para a gente “Arrudiar” o Centro Histórico de Aracaju. Começamos a nossa caminhada pelos mercados centrais. Comemos carneiro com macaxeira, sarôio e um pãozinho Jacó com queijo coalho lá em Dona Lúcia. Percorremos as bancas de artesanato, compramos uns cordéis e umas peças de renda irlandesa e seguimos pelas “Ruas de Ará”.

Palácio Museu Olímpio Campos - Divulgação

Visitamos o Centro Cultural de Aracaju, a igreja São Salvador, o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, a Rua do Turista, a Catedral Metropolitana, o Palácio Museu Olímpio Campos, Praça Fausto Cardoso e a Ponte do Imperador. Nesse percurso, encontramos Anne Samara gravando o Giro Sergipe, o grupo Imbuaça apresentando A peleja de Leandro na trilha do cordel, a professora Rosana Eduardo percorrendo, com os alunos, as suas “Trilhas Urbanas” e Euler Lopes estava de mãos dadas com umas “Mariconas” fazendo mais uma sessão de “Rio, Sim”.

Flanando pela Beira Mar, sigo apreciando o Rio Sergipe e acenando para Tintiliano que estava fazendo um passeio de tototó pelas águas de Zé Peixe.

Largo da Gente Sergipana - Davi Costa

No Largo da Gente Sergipana encontramos turistas dançando Samba de Coco com Seu Diô. No Museu da Gente Sergipana, apreciamos as crianças assistindo ao Mamulengo de Cheiroso e viajando no mundo dos contadores de histórias da Academia Sergipana de Contadores de Histórias. Comemos no Bistrô Café da Gente e cada um foi para o seu destino.  
Passei na feira do Augusto Franco porque quem gosta de feira sou eu, não é ninguém não. Lá comi meu pastel de jabá acompanhado do caldo de cana e garanti o pirão da semana. 

Quinta-feira aparece um “Soldado da Noite amante da madrugada” com um convite para percorrer os bares e botecos da “capital do amor”, a forma carinhosa como Zenilton denominou Aracaju. Jeca Mó estava dormindo, mas “Saturno” acordou. Davi Cavalcante disse: “Ainda Aqui, vamos para onde?” Nesse hora lembrei de Tupã da Viola cantando em plena avenida Hermes Fontes “Os 40 Bairros de Aracaju”. Foi aí que comecei a fazer uma relação, cada bairro que pensava aparecia, no mínimo, um bar ou boteco simbólico. São casamentos perfeitos, Amendoeira e Médici, Joel e Atalaia, Confraria do Cajueiro e Inácio Barbosa, O Arrumadinho e o Bairro Industrial, o Bar da Bisteca e o Getúlio Vargas, o Bar dos Estudantes e o Siqueira Campos. Começamos a noite cantando no Valentinos, seguimos para o Brother’s Club e finalizamos no Vegas. 

Orla Pôr do Sol - Carluz

Sextô! O Samba do Arnesto já sabe que “Dia de Sexta é que a coisa pega”. Começamos com uma pedalada da Orla Pôr do Sol até o mirante da 13 de Julho. Fizemos duas paradas no parque da Sementeira e no Parque dos Cajueiros. Cazoy estava plantando mudas de “Cajucidade” por onde passava. Alfacinha dizia toda hora: “ohhhh calor ducabrunco” e Sannany “as pernas vão papocar”. O Pantanal, aquele do Mosqueiro, estava esperando a gente com quatro cordas de caranguejo e um pirão de galinha de capoeira. Ficamos molinho, parecia o zelador Júnior, a deuzinha da Suissa, sendo entrevistado por Jairo Júnior.

Cine Vitória - Fabiana Costa

Final de tarde estava a fim de um cinema. Pensei no Alquimia, mas optei pelo Cine Vitória. Ia rolar um evento do Fórum Permanente do Audiovisual de Sergipe, com exibição de documentários sergipanos, apresentação musical de Nanã Trio e debate com os imortais da Academia de Letras de Aracaju. Chamei Diane Veloso, mas ela mandou mensagem dizendo que estava “Offline”. Insisti. Bora! Vai ser bom. Ela respondeu: “Hoje eu não tô pra muita coisa; Não tô pra cinema; Ninguém na minha porta….Hoje eu tô só pra mim”. Fiquei barreado, de coração partido, num chamo mais. Encontrei SandyAlê na praça Olímpio Campos. Ela chamou logo a minha atenção, você já viu “A Fila” que tá para entrar? “Vá, ande logo que a fila tá aumentando e a tendência é piorar”. O evento foi espetacular. 

Marquei com Jaque Barroso para tomar um “Banho de Quilombo” lá na Maloca. Descidão dos Quilombolas nas ruas do quilombo urbano de Aracaju. No Centro de Criatividade um encontro do Maracatu Asè d’Orí, Lívia Aquino e o Afro Maria Tambô, Afoxé Di Preto, Batalá Sergipe e Burudanga Percussivo. Peguei carona com Betinho Caixa d’Água e fomos para o Doca. Dj Rafa Aragão, Lampião da Rima, Pardall MC, galera da Aldeia Escola de Circo, Brena, Centaura, Afromusa e roda de samba com Samba de Meia Hora, Quioco Cabriolar, Samba de Moça Só e Samba de Salto.

Praia da Cinelândia - César Oliveira 

Sábado pela manhã rolou uma “Cinelê” com João Luís. Encontramos Os Faranis e a certeza que o “Verão Chegou”. Mangaba no picolé da Moniery e na voz e violão. Saudades do geladinho da preta. Duas latas de amendoim e uma cerva gelada em Venícius.

Mania de Ser na Cervejaria Uçá no fim de tarde. “Velhas Novidades” com J Victor Fernandes na 1A Gallery. Julico no Clash e Sarauzin na AABB. Para onde ir? É por isso que concordo com Sérgio Lucas: “Amo, amo, amo Aracaju.
E não há nenhum lugar mais lindo que tu”.

Laje do Titio - Supamigos

Domingão, vamos até a Laje do Titio, curtir um estilo Supamigos de levar a vida. Partiu Reação, Tinho Marinho, Kleber Melo e batalha de rimas na Fazendinha. Para finalizar a noite, um bom chorinho com uma seresta lá no Parque da Cidade, no Recanto do Chorinho. Parafraseando Lula Ribeiro: “Te olho, te beijo;
Sinto teu cheiro de caju;
Te guardo aqui no peito forte;
Te amo Aracaju”

*Denio Azevedo é aracajuano e coordenador do projeto Sergipanidades. O texto foi escrito para apresentar a dinâmica cotidiana da “capital das contradições”. @sergipanidades79