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A Sergipanidade é um sentimento de pertença a Sergipe. Por ser um sentimento, é algo difícil de explicar, pois é algo intangível e dinâmico. As construções identitárias são variadas e as percepções também são distintas. Narrativas, imagens, fatos históricos, aspectos geográficos, literatura sergipana, intelectuais sergipanos, ícones oficiais, arte sergipana, música sergipana, gastronomia Sergipana, enfim, diferentes saberes e fazeres são utilizados ao longo dos anos como representantes de múltiplas narrativas que procuraram concretizar as identidades sergipanas.

A valorização do eu sergipano, a diferença com o outro, o não sergipano e a percepção dos diferentes sergipanos, geraram Sergipanidades. As marcas das Sergipanidades são infinitas e renováveis, mas alimentam os diferentes álbuns contidos na memória individual e/ou coletiva. A minha Sergipanidade é um conjunto de vivências que foram/são experenciadas ao longo da minha trajetória, portanto, ela continua sendo (re) construída. A minha Sergipanidade tem cores, cheiros, sons e sabores. O cheiro do pão jacó quente e o gosto de peito de moça da padaria de Ana.

O geladinho de Dona América, os picolés de russo, mangaba e coco da Cinelândia, como esperava aquele sininho tocar depois do almoço. A gaita do vendedor de quebra-queixo, o triângulo do cavaco chinês e a buzina do vendedor de pão que passava à porta todo final de tarde. Um vendedor gritando "carangueeee---jo" e o outro "saroio, pé-de-moleque, beiju moiado, má casado". Juntava garrafas para esperar o "garrafeeeeei-ro, compro pneu, bateria, ferro velho e radiador" e me admirava com as histórias de Seu Jaime caminhoneiro e Seu Correia jogando dominó na praça do Conjunto dos Motoristas.

As brincadeiras de garrafão, corrida de tampinha, soltar pipa no morro, bola de gude e o sagrado futebol na rua, na quadra ou na varanda de casa. Quebrar Ouricuri, chupar cana no Batistão, comer amendoim verde cozido na praia e tomar mingau de puba na feira. Ela tem o gosto dos doces de Dona Nena ou das doceiras de São Cristóvão, onde tenho as melhores queijadas, das bolachinhas de goma e do pirulito de mel que era vendido no tabuleiro. Assistir ao Bolo de Feira, Amorosa, Antônio Rogério e Chiko Queiroga, Sena e Sergival na concha acústica da Praça Tobias Barreto e nos bares da Francisco Porto.

Desenhar e pintar no vagão da Praça Olímpio Campos. Ficar encantado com o Imbuaça na Praça Fausto Cardoso, onde também brinquei carnaval e dancei forró durante os festejos juninos. A luz da minha Sergipanidade está no rojão do buscapé, espada, pitu e no navegar do barco de fogo. A minha Sergipanidade tem as cores do Lambe-sujos x Caboclinhos, a ginga do São Gonçalo da Mussuca, o girar dos Parafusos de Lagarto, a alegria da quadrilha junina e a energia de D. Nadir e do Mestre Sabau. A força da minha Sergipanidade está na luta dos Xocós e dos quilombolas.

Os sons da minha Sergipanidade estão no tamanco do samba de coco, no pisa-pólvora, no samba de parelha e no samba de Aboio. Está também nas rodas de samba do Siqueira Campos, no Chorinho do morro do Urubu e do Bairro América e no forró de Zé Rozendo e Marluce, Cabeça-de-Frade e Erivaldo de Carira. Minha Sergipanidade têm a harmonia das escolas de samba da avenida Barão de Maruim e das ruas de Estância. Eu sou Naurêa, The Baggios, Reação, Polayne, Mingo, Nino, Giló Santana, Fontinele, Chiquinho do Além-Mar, enfim, eu sou Joãozinho Popular.

Minha Sergipanidade têm o gosto do Café da Gente Sergipana, do bolinho de bacalhau de Seu Abel, da Moça Virgem e da Véia Fogosa do Caçarola e da pizza de tapioca com coco queimado do Seu Bistrô. Ela é catadora de mangaba, marisqueira, pescadora de sonhos, catadora de aratu e vem embalada na palha com bastante pimenta. Possui a forma da arte de Véio, Mestre Pedro e Beto Pezão e os traços de José Fernandes, Tintiliano e Hortência Barreto. Cabrunco é muita coisa, deixa eu parar por aqui. Essa é a minha Sergipanidade, pode ximar. Qual é a sua?