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Prof Denio Azevedo

Era uma noite de sexta-feira, do mês de junho, no Forró da Comunidade, no Recanto da Paz, em mais uma noite de forró acompanhado de amendoins, bolo de puba e uma boa prosa. Na ocasião, o diálogo foi com o amigo Hernany Donato. Estávamos conversando sobre a agricultura familiar sustentável do forró sergipano. 

Fiquei impressionado como o solo do Estado de Sergipe. As condições climáticas e as técnicas utilizadas pelos agricultores forrozeiros eram propícias para uma colheita de qualidade. 

Começamos então a analisar como estes mestres dos saberes e fazeres forrozeiros conseguiam repassar os seus conhecimentos para as novas gerações e como as sementes geravam novas árvores frutíferas.

Começamos pelo agreste sergipano, mais precisamente em Simão Dias. Encontramos uma família no povoado Jacaré, que cultivou uma das mais belas árvores de Sergipe, um pé de Josa, o Vaqueiro do Sertão. Linda, frondosa e imponente. Lembrava uma jaqueira. Na sombra dela, os pássaros disseminaram sementes, adubaram, tornaram o ambiente ainda mais belo e harmonioso, nasceu um pé de Joseane de Josa.

A nossa viagem foi até uma “Fazenda Velha”, no semi-árido sergipano, município de Carira. Lá, chamou atenção a história de um casal da agricultura familiar sustentável do forró, Seu Manezinho de Carira, sanfoneiro bom dos oitos baixos e Dona Julita. A base do seu plantio foi as matrizes formadoras do forró. Cuidaram do terreno e ensinaram como é possível diversificar as culturas, preservando as suas raízes. 
Na primeira produção saiu um “Forró a Brasileira” de um plantio de Erivaldo de Carira. Deste, como se fosse uma clonagem de “Pai pra Filhos”, nasceram novos e frutíferos plantios de Mestrinho, Erivaldinho e Thais Nogueira.

Na agricultura familiar sustentável os agricultores continuam mantendo a tradição e rezando  para que caia a chuva no dia de São José. Eles também continuam acompanhando a dinâmica dos estudos mais recentes sobre tecnologia agrícola. Com isso, vão buscar sementes boas, resistentes e produtivas em outros Estados para plantar no fértil solo sergipano. 

Da Zona da Mata alagoana veio uma linda semente de Clemilda. Desta, brotou uma belíssima flor com cheiro de “talco no salão”. O plantio de forró era o mais cheiroso da região. No encontro da flor de Clemilda com um pé de oito baixos de Gerson Filho, nasceu uma tipo de vegetação que dança quando toca forró, Robertinho dos Oito Baixos.

Outra semente alagoana, vinda de Piaçabuçu, carregada num “Baú de Amor”, foi o pé de Ararão do Nordeste. Menino, dali saiu um monte de fruta de “Forró do Bom”.  A semeadura gerou mudas de Scurinho Zabumbada, Wagner Lima, Kaique Lima e Gilvan Lima.

A cada comentário sobre esse solo fértil do forró sergipano, a gente percebia como as raízes aqui estavam fincadas e a necessidade latente em conhecer e respeitar o nosso patrimônio. 

E vocês pensam que parou por aí? Parou nada! Do plantio de Agnaldo do Forró tivemos Mimi do Acordeon, Robson do Rojão, Miúdo e Juninho. Dos pés de Lourinho do Acordeon brotaram frutos como Lourinho Júnior, um pé de Cebolinha e Forró Bis e Erik. 

Não podemos deixar de falar das sementes de Ismael que nos presenteou com Glaubert do Acordeon. 

O grande problema da agricultura familiar sustentável do forró é que muitas pessoas não valorizam os seus produtos que são livres de agrotóxicos. Estes preferem os enlatados produzidos pela agroindústria do consumo de massa. Vários não estão preocupados com a saúde do nosso forró. 

O país do forró precisa valorizar as suas sementes, o cultivo orgânico e os frutos da colheita para que o nosso forró não seja devorado pelas pragas. 

Com as graças de São José, Santo Antônio, São João e São Pedro teremos mais sensibilidade e atenção com os nossos agricultores forrozeiros e com o nosso forró.