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O turismo é um deslocamento programado, por um determinado período, para um local diferente de onde a pessoa reside. O universo do turismo é extremamente complexo e envolve uma cadeia econômica enorme. Portanto, qualquer análise prévia deixará brechas, resultará em novas críticas e deixará pistas para reflexões futuras. Neste pequeno recorte a ideia é inserir o turismo em um grande debate sobre o tema, pois é o setor que talvez mais sofre/sofrerá com a pandemia do Covid- 19. 

De uma forma geral, sabe-se que o turista para se deslocar precisa de pelo menos três elementos essenciais: uma motivação central para a escolha do destino turístico, tempo livre e dinheiro. Este último precisa de uma retomada da economia brasileira e de ações criativas dos governos e da iniciativa privada para que o dinheiro volte a circular em diferentes setores. Para muitos trabalhadores o tempo está vinculado ao período de férias ou as folgas conseguidas a partir do banco de horas. O problema é que a principal solução encontrada pelos gestores e proprietários foi o uso de férias coletivas e do banco de horas para evitar os desligamentos dos seus colaboradores nesse período de crise provocado pela Covid-19. Portanto, uma parcela significativa da população brasileira não terá esse tempo livre. Já aqueles que possuem o tempo livre, como os aposentados e pensionistas, muitos estão na melhor idade, no chamado grupo de risco dessa pandemia, e deverão demorar mais a praticar as suas viagens. Após um período de temor e incertezas, talvez, a grande motivação para viajar seja a segurança. Sobre este tema que vamos nos deter um pouco mais.           
Para que o turista saia da sua casa ele precisa se sentir seguro. Ele não sairá da sua cidade para um destino turístico onde ele acredita que está colocando em risco a sua vida, da sua família e das pessoas mais próximas. Porém, essa preocupação, possivelmente, só ocorrerá com as pessoas que entenderam a gravidade do Covid-19.

Como nesse momento estamos atravessando uma pandemia, a preocupação inicial será relacionada aos cuidados tomados pela cidade, pelos residentes, pelo meio de hospedagem, pelo transporte, pela saúde pública local, pelos bares e restaurantes e se esses seguem as orientações da Organização Mundial de Saúde e Ministério da Saúde, por exemplo. 
O turismo já trabalha com diferentes preocupações vinculadas a segurança (pública, do trabalho, alimentar, dentre outras) mas o cenário nos mostra uma necessidade contemporânea. Uma luta específica contra o Covid-19 que envolve cuidados com a imagem de uma cidade limpa, que pratica a higienização dos espaços públicos, que fiscaliza os equipamentos turísticos, promove a manutenção da sua infraestrutura turística, orienta os residentes e turistas sobre os cuidados com a saúde pública. Os residentes serão atores principais nesse processo, eles terão que passar por transformações de hábitos que vão de encontro ao seu cotidiano contemporâneo. A higiene pessoal e a limpeza pública são as palavras de ordem desse cenário.

Acreditamos que esse turista evitará as aglomerações e isso afetará diretamente uma parte significativa do setor de transportes, de destinos reconhecidos pela presença do turismo de massa e de grandes eventos. Ao invés do avião, ônibus, micro-ônibus e vans, vários turistas optarão pelo carro de passeio, seja ele próprio ou alugado. Dito isso, é preciso cuidar com muito zelo e eficiência das nossas vias de acesso, da sinalização rodoviária e turística. 

Para estes, os deslocamentos serão mais curtos e a escolha se dará para destinos turísticos menos procurados. Qualquer investimento em turismo internacional deverá ser redirecionado para a promoção do turismo doméstico. A entrada em diversos países do mundo será dificultada, e até mesmo impedida, nos próximos meses. 

O planejamento na promoção do destino turístico feito antes da pandemia precisa ser refeito, revisado e direcionado aos Estados do entorno ou àqueles interligados pelas principais vias de acesso, e pensados, principalmente, para esse deslocamento rodoviário. As pessoas poderão viajar mais dentro do próprio Estado.

É óbvio que empresas aéreas e rodoviárias já trabalham com valores abaixo dos praticados no mercado até as ações de isolamento social motivadas pelo Covid-19, e isso é um fator de motivação para alguns turistas. Porém a incerteza e o risco não trazem a segurança necessária nesse momento para o uso desses meios de transporte. 

Estando com carros de passeio esses turistas ganham em mobilidade dentro do próprio Estado, o que traz incertezas para as agências de receptivos e os profissionais que trabalham para essas empresas, como os guias de turismo. 

Os espaços precisarão se preocupar com estacionamentos para esses veículos, roteiros e rotas turísticas para aumentar o tempo de permanência desses turistas nos destinos turísticos, maior e melhor conhecimento sobre os seus recursos culturais e naturais e melhorar a mobilidade urbana. 

Investimentos em pesquisa são necessários, é preciso rever práticas e entender o que será o setor pós isolamento social provocado pelo Covid-19. 

O diálogo entre os diferentes setores que compõem o trade turístico  é fundamental. As parcerias, o planejamento integrado e colaborativo são necessários. 

O auxílio do Estado precisa acontecer de forma rápida, eficiente, que englobe, empreendedores individuais, micro, pequenos e grandes empreendedores.  Estes, que verdadeiramente, mantêm a cadeia produtiva do turismo e que geram impostos precisam ter segurança em manter os seus empreendimentos. 

Os colaboradores precisam ter a sensação de segurança nas empresas que eles trabalham. A ideia que o seu emprego/trabalho não está em risco auxilia na (auto)motivação de melhorias constantes no desempenho das suas atividades. Talvez esse seja o maior desafio do empregador. No cenário de incertezas ele precisará arrumar soluções criativas, viáveis e urgentes para manter o seu empreendimento. Os proprietários e gestores estão trocando o pneu do automóvel com ele em movimento.

No universo dos serviços os recursos humanos possuem uma importância significativa no sucesso dos empreendimentos e a iniciativa privada possui plena consciência disso. O problema agora é o que e como fazer para enfrentar o problema.

A segurança é o principal remédio contra os temores, as incertezas e riscos. Após esse isolamento social, as estratégias para buscar essa segurança estão no centro dos debates entre os envolvidos no e com o setor de Turismo.

A sensação inicial é que a máquina do Turismo teve que ser resetada. Está tendo a possibilidade de começar outra vez. E aí, vou apagar todos os meus arquivos? Não. Eliminarei só os infectados. Diante desse contexto e percebendo a necessidade em pesquisas e planejamento, o Prof. Joab Almeida propõe três encaminhamentos iniciais: “a possibilidade em reposicionar o destino turístico no seu planejamento turístico para as suas próximas ações de promoção; revisar a sua carta de ofertas, seu cardápio de roteiros e produtos, ofertando produtos criativos que potencializem a experiência do turista; além de revisar o novo perfil da sua demanda”.

Continuando o caminho de propostas para o Turismo, acredito que são caminhos interessantes a seguir: I - analisar o que foi feito em outros países após momentos de calamidades, crises e instabilidades. II - analisar e praticar as principais medidas de segurança sanitária e alimentar e tornar evidente que isso vem sendo feito pelo destino turístico, os futuros consumidores precisarão saber disso na pré-viagem; III - trabalhar com valores atrativos, principalmente, a partir de uma análise comparativa dos preços praticados na região; IV - investimentos urgentes em rodovias, sinalização, acostamentos, iluminação e tudo aquilo que favoreça o deslocamento rodoviário; V - estimular as pessoas que passaram por uma série de dúvidas, incertezas e temores durante a quarentena que o melhor remédio é viajar para um destino que lhe passe segurança! 

Diante de uma área multidisciplinar, recheada de temas transversais e marcada por tamanha complexidade essas reflexões servem para estimular o debate para um primeiro momento pós isolamento social. O momento sugere um diagnóstico preciso para repensarmos os próximos passos e analisarmos as práticas de todos os envolvidos com a cadeia produtiva do turismo. 
 
*Professor do Departamento de Turismo da Universidade Federal de Sergipe.

E-mail: denio_azevedo@yahoo.com.br