imagem

Assim como um sonho gonzagueano, ontem, era uma sexta-feira daquelas do Naurêa, e me vi no restaurante Seu Sergipe sendo recepcionado pela irrequieta Seichele Barboza, ao som do buraqueiro Luiz Fontineli, cantando “Sergipe é o meu Lugar”. Logo após o portão me encantei com o Jardim de Xangô onde “a flor dá na pedra”, igual ao que vi na casa de Joésia Ramos. Na varanda Polayneana havia uma rede armada sendo balançada ao ritmo do vento e um papagaio das asas douradas, sem asa e sem bico que me lembrou os brincantes dos grupos populares. Sentei à mesa e analisei o cardápio de opções oferecidas pelo menu degustação.

Pedi a carta de bebidas e fiquei confuso com as opções de cachaça indicadas pelo sommelier Mario Cabral “Combate, Juízo, Murici, Aratu, Mangabil, Azuladinha, Mocotolina e a notabilíssima Januária”. Lembrei de Ismar Barreto me chamando para ir à “Pirambu, beber lá no Dedé”, apreciar um Murici ou, simplesmente, beber um chopp no Fans junto com Pascoal. Como queria algo mais exótico, iniciei a minha noite com uma dose de Coco da Capsulana, servida amorosamente. Pense numa fiaducanso do istopô balaio boa!!!

O espaço estava lindo, todo arrumado e com o cheiro das manhãs da minha terra. Na entrada do prédio um caju de Eurico Luiz. Nas paredes Hortência Barreto “Arrastando o Fole”, Joel Dantas com a “Fábrica de Doces em Fundo de Quintal” e Joel Silveira com a “Mesa Nordestina”. Nos móveis eu me deparei com a força e diversidade do sertão de Véio e com os pescadores de Beto Pezão. Quero ressaltar que fiz uma viagem pela história de Sergipe com as louças de Rosa Faria que tornavam o ambiente ainda mais prazeroso.

Seicheles Barbosa vendou os meus olhos e me serviu uma bebida que era “doce, amargo, canela, cravo e mel, limão e álcool”, uma sensação the baggiana, não sei explicar esse vulcão de sensações, era forte como um tiro de bacamarte, mas me sentia leve, como um pisar macio da Santa Dulce dos Pobres nas ruas de São Cristóvão. Logo em seguida, comi uma ostra do Brejão dos Negros gratinada com queijo coalho e molho de vinho Cabernet e um ceviche de banana-da-terra que me fazia lembrar o quanto era diversificada, simples e sofisticada as coisas da minha terra. Pensei em Igor Mangueira dizendo “Sergipe não cabe em si, Sergipe é grande sim”.

Logo em seguida veio uma moqueca nordestinaracajuano assinada pelo chef Róger Kbelera. Nesta tinha siri que dava no mangue, camarão pequeno e grande, muito peixe, caranguejo e guaiamum com molho de cajá. Comi ainda um catado de caranguejo que foi quebrado com os pés do forró Xote Baião. Como explicar o que senti quando comi a feijoada do Lambe-sujo e o carneiro do samba de aboio do povoado Aguada/Carmópolis. Dificilmente terei outro banquete como esse.

Depois desse banquete de sensações, fui prosear com Josa na “Sombra da Jaqueira”, chupei melancia com Erivaldo de Carira, comi e bebi “milho, canjica e quentão” com Rogério na rua de São João e me deliciei com um bolo de feira com Antônio Carlos du Aracaju. O sonho acabou, fiz uma boa digestão e tive a certeza de que consumi o melhor de Sergipe, a cultura sergipana.