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Prof. Denio Azevedo (PPGCULT/DTUR/ANTUR/UFS)

Com a retomada lenta e gradual das atividades artísticas, a reabertura dos espaços de memória e a presença de pessoas nos espaços de sociabilidade, voltamos a ter o consumo cultural. Os bens e as práticas culturais podem apresentar símbolos representativos dos diferentes grupos sociais e o diálogo estabelecido com técnicas, escolas de pensamento e artistas. Residentes, estudantes, pesquisadores(as) e turistas, cientes da existência de um calendário cultural, buscam o encontro com esses diferentes saberes e fazeres, a partir de apresentações artísticas, exposições, mostras e eventos culturais. 
O chamado Centro Histórico da cidade de Aracaju/SE cada vez mais se apresenta como esse grande espaço de encontro com as mais distintas formas de expressão, com as diferentes narrativas, sons e cores. Fico encantado com o ecletismo das construções, as pedras portuguesas, a arte em azulejos, os bustos e as estátuas, os coretos e as mais diversas obras de arte espalhadas pelas ruas e interiores de prédios públicos e privados.
Ainda sou daqueles que contemplo os artistas que se apresentam em áreas públicas, atravesso a Ponte do Imperador com os meus imaginários e sonho em beber um chope lá no Fan’s com Fausto Cardoso e Olímpio Campos, agendando dias diferentes com cada um. Sinto saudades da Cinelândia e imagino o encontro de jovens estudantes no Cacique Chá. Comparo a arquitetura dos prédios IHGSE com a do Arquivo Público do Estado de Sergipe, lavo as escadarias da Catedral Metropolitana no 8 de dezembro e lembro dos filmes no Cine Palace e Cine Rio Branco. 
O processo de revitalização, reforma e construção da ideia de Centro Histórico da capital sergipana trouxe a presença de equipamentos turísticos e distintos usos desse espaço que foi até a década de 1980, a principal referência comercial da cidade de Aracaju/SE. Os mercados Thales Ferraz e Antônio Franco, a Rua do Turista, o Palácio Museu Olímpio Campos, o Largo da Gente Sergipana e o Museu da Gente Sergipana são exemplos das inúmeras possibilidades de consumo cultural nesse espaço. 
Ciente disso, peguei a minha passagem, arrumei as malas e fui vivenciar inúmeras experiências nessa cidade litorânea, que possui uma oferta cada vez mais interessante e atraente para os consumidores culturais. Em um mesmo dia assisti a um filme francês no Cinema Vitória, prestigiei na Praça General Valadão o 4º Encontro Nacional e Internacional Mulheres na Roda de Samba. Já na Praça Fausto Cardoso, acompanhei a final do Sesc Canção e desfilei pela Travessa Almirante Barroso e Praça Olímpio Campos, pelas passarelas do Natal Iluminado. Mas a primeira parada dessa viagem foi em uma estrutura geodésica, montada no estacionamento do Museu da Gente Sergipana, para receber uma exposição interativa do projeto Cores da Gente: Imersão e Emoção.
Esta exposição visa fazer uma homenagem póstuma a artistas que são representativos das artes sergipanas, principalmente, os pintores. As obras possuem múltiplos contextos históricos, do séc. XIX ao XXI, temas, estilos e narrativas diversas. É um grande convite à interação com artistas e obras. É como se o visitante se tornasse um personagem das peças animadas ou tivesse o poder de fazer intervenções nas obras apresentadas. 
Como percebi que a ocasião merecia uma roupa apropriada, vesti o “Manto da Apresentação” de Bispo do Rosário. Assim que cheguei me deparei com Jenner Augusto e “Os Primeiros Habitantes de Sergipe”. Começamos a conversar sobre as formas de organização da vida social, a defesa do território e os modos de sobrevivência dos indígenas sergipanos. Começamos a caminhar pelo litoral e de repente encontramos “Pery e Cecy” que estavam visitando Horácio Hora e retornavam para a aldeia naquele momento. Agradeci a hospitalidade indígena e continuei a minha viagem.
Parei para beber um caldo de cana e tive a felicidade de dividir uma mesa com Jordão de Oliveira. É lógico que a prosa foi sobre a “Economia de Sergipe”. A pecuária e a agricultura marcavam a base econômica de Sergipe até o século XIX, mas a concentração de terras era grande e logo lembramos de Oséas Santos que fazia questão de ressaltar o quanto “A Fome” fazia parte do cotidiano de diferentes famílias nesse território. Florival Santos afirmava que foi essa necessidade de subsistência que aumentou o número de “Retirantes” dos solos sergipanos. Ficamos ali até a barraca fechar. Marcamos um novo encontro, na “Catedral de Aracaju”, sendo que dessa vez, para comer um beiju na casa de Rosa Faria. 
Segui o meu roteiro. As minhas andanças mais pareciam a “Cena da Via Sacra” de Joaquim Felipe Sant’Anna. O sol estava brilhando forte. O calor me obrigava a buscar sombras nas “Bananeiras” de José Inácio. A sede era tamanha que já havia pedido água nas “Três Casas” de José de Dome. Já próximo ao meio dia, encontrei Veste Viana, em frente as “Portas e Janelas do Museu de Arte Sacra de São Cristóvão”. A praça São Francisco estava linda. Crianças brincando ao sair da escola e o pipoqueiro perfumando as ruas do entorno para atrair os seus consumidores. Almoçamos uma deliciosa moqueca de aratu, saboreamos uns bricelets e, ainda trouxe umas queijadas para o meu jantar. 
No último dia da minha viagem, andei de bicicleta com Eurico Luiz no “Parque dos Cajueiros”. Foi pura diversão. Como transpirei bastante, tirei a camisa e fiz uma foto. Para o meu espanto, no momento em que a fotografia foi revelada, estava idêntico ao “Autorretrato” de Álvaro Santos. Tempos depois, enviei uma carta para meu amigo Eurico Luiz com a fotografia revelada. Rimos bastante dessa história. No turno da noite encerrei a minha saga andando no carrossel do Tobias, com Anete Sobral, na “Festa de Natal” do parque Teófilo Dantas. Com o céu estrelado e com a magia dos festejos natalinos me senti como o “Iluminado” de Antônio Maia. 
A ideia aqui foi costurar, como as “Rendeiras” de Félix Mendes, os imaginários, os sentidos aguçados e as experiências dessa viagem virtual. Com a alegria, as cores e diversidade dos “Festejos” de José Fernandes quero parabenizar Ézio Déda e todos aqueles que fazem o Museu da Gente Sergipana pela organização dos destinos visitados. As queridíssimas Sayonara Viana, Verônica Nunes, Adriana Hagenbeck e Tayara Celestino pelo cuidado na seleção dos atrativos que deveriam ser visitados nessa viagem. Os sons das cidades ficaram por conta de Dudu Prudente e a belíssima reprodução fotográfica de Márcio Dantas. 
Organizem o seu tempo, a passagem é gratuita, arrumem a bagagem, a aeronave decola no Museu da Gente Sergipana e o destino é o universo das sergipanidades. A partir dessa imersão é provável que a emoção seja policromática, assim como as cores da gente. O Centro Histórico de Aracaju espera por vocês. Até a próxima dica de viagem!!!